Silvia Pinter, aos 52 anos, encontra no balé uma nova paixão, se desafiando, superando desafios, descobrindo forças e se reinventando. E ela celebrou isso tudo nos palcos do maior festival de dança do mundo

Por Silvia Pinter, jornalista, Bacharel em Direito e especialista em novas tecnologias e em gestão pública. Atualmente Coordenadora da área de Comunicação Social do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC).

Existem sonhos que a gente nem sabe que tem. Dançar no Festival de Dança de Joinville não era nem um desejo meu. Mas quando me vi em um dos palcos do festival com meu grupo de balé adulto da escola Bailado da Ilha, do bairro Monte Verde, em Florianópolis, foi como se eu tivesse realizado um sonho, mas um sonho que eu nem sabia que tinha.

Nunca havia feito balé na vida até o ano passado. Decidi fazer uma aula experimental por influência de uma amiga querida e também porque tinha a ilusão de que o balé era fácil. Queria algo para mexer o corpo, descansar a mente e que fosse perto de casa.

Trabalho muitas vezes mais de oito horas por dia, tenho dois filhos, um de 19 anos e outro de 14, cuido da casa, estudo, enfim, uma rotina pesada, como a maioria das mulheres. Então, tinha que ser algo prático e simples. Tudo o que o balé não é, mas eu não sabia.

Na primeira aula, me senti o próprio Robocop; quem é da minha geração sabe quem é. Tudo era meio grego para os meus ouvidos, pernas e pés — plié, tendu, fondu e mais alguns termos. Não basta saber a posição dos pés; os braços precisam acompanhar.

Colocar pés e braços para dançar juntos era quase impossível. Ou era um, ou outro, ou eu me perdia. Tenho a sensação de que me faltava coordenação motora. Acho, até hoje, que ainda me falta um pouco. Então, por que razão eu segui e fui parar no 41º Festival de Dança de Joinville?

Dançar é uma forma de não pensar no passado nem no futuro; ajuda a curar as feridas que há muitos anos coloquei para debaixo do tapete, mas que estão presentes no meu dia a dia como padrões que se repetem, e que só passei a reconhecer depois que comecei a observar mais o meu mundo interior do que o exterior.

O balé me dá postura, leveza, resistência física e mental. Integra minha alma, me faz sentir viva e lembrar que tenho limitações, mas que posso ir além. Porém, jamais me imaginei no maior festival de dança do mundo.

Tudo aconteceu muito rápido. Em um belo dia de março deste ano, o professor perguntou se o nosso grupo de balé adulto queria se apresentar nos palcos abertos do festival. Fiquei muda. Minhas colegas aceitaram de imediato. Não havia muito tempo para pensar; era preciso começar logo a ensaiar a coreografia.

Até nos palcos abertos há seleção. Acabei concordando. No fundo, achava que não seríamos aprovadas. Um mês de ensaio e o vídeo foi enviado para avaliação. Quando vi que havíamos sido selecionadas, só pensei: o que é que fui inventar para mim? Não havia mais volta; virou compromisso.

Ensaiávamos todos os sábados, e também todas as segundas e quartas à noite. Afinal, passar na seleção era só o começo. Quanto mais eu ensaiava, mais percebia que precisava ensaiar. Até que chegou o grande dia: 19 de julho, uma sexta-feira. Tínhamos três apresentações marcadas, uma no palco do Shopping Mueller e as outras duas no palco da Sapatilha.

Eu só pensava: não posso esquecer os passos. Não esqueci. Porém, minha performance poderia ter sido melhor, mas as outras do grupo foram ótimas.

Trabalho em equipe é assim: quando um ajuda o outro, todos vão bem. 

No sábado, nos apresentamos no palco da Praça Nereu Ramos. Foi maravilhoso; me senti mais à vontade e consegui me divertir. E no domingo, até tentamos, mas o som deu problema. Entramos três vezes no palco e tivemos que sair.

Sempre que fico nervosa, tenho vontade de rir, e foi difícil segurar o riso. Poderia ter sido “um mico”, mas não foi. O público nos aplaudiu. Um aprendizado e tanto. Não ouvi uma vaia; todos estavam ali torcendo pelo sucesso de cada bailarino e bailarina. A torcida era para todos.

Não me considero uma bailarina, mas uma aprendiz. Se eu me comparar com outras bailarinas, que dançam desde sempre, desisto de dançar neste exato momento.

Mas quando me comparo comigo mesma, a Silvia que nunca fez balé e tem 52 anos, fico muito orgulhosa de mim.

Até já comprei uma sapatilha de ponta. Se conseguirei dançar na ponta dos pés, isso já é outra história. Como meu tempo é agora, tudo pode acontecer. Melhor viver vivendo do que esperar pelo melhor momento.