A paixão pelo vinho transformou a vida de Janaina e a levou a promover a conexão entre mulheres, descomplicando o universo que envolve a bebida

Janaina Piccoli Brizolla sempre teve o vinho presente na vida dela, especialmente por suas raízes italianas. Esse moradora de Chapecó (SC) tem uma história de paixão e de transformação.

“O vinho sempre esteve presente na nossa mesa. Cresci vendo meu pai beber uma tacinha de vinho, o de garrafão mesmo, e ele sempre dizia que vinho era remédio,” relembra Janaina com carinho.

Entretanto, apesar dessas memórias, o vinho não era sua bebida favorita até o início de seu relacionamento com Evandro, seu esposo.

“Quem me converteu ao mundo do vinho foi meu esposo. Nossos momentos a dois sempre eram regados a vinho, e começamos a colecionar as rolhas, escrevendo dedicatórias nos momentos especiais.”

Resiliência e redescoberta

Em 2018, a vida de Janaina sofreu uma reviravolta com o diagnóstico de mieloma múltiplo, um tipo raro de câncer no sangue. Durante os dois anos e meio de tratamento, ela sentiu falta de poder brindar a vida com vinho, algo que simbolizava para ela saúde, união, bem-estar e conexão.

“Foi aí que percebi que o vinho simbolizava para mim saúde, união, bem-estar, conexão, amizade e, obviamente, autocuidado,” reflete Janaina, destacando a importância desses momentos de pausa e conexão com os outros e consigo mesma.

Um novo capítulo com o vinho

No início de 2020, ainda em tratamento e em meio à pandemia, Janaina encontrou no vinho um novo propósito.

“Meu marido encontrou um curso sobre vinho e sugeriu que fizéssemos juntos. Foi o que despertou a vontade de empreender no mundo do vinho por meio do online com o delivery.” Ao lado do marido, ela deu vida a Santé Vinhos Delivery.

Esse interesse cresceu, levando-a a se especializar na área e a criar uma rede de mulheres empreendedoras ligadas ao mundo do vinho.

Após participar de um curso sobre vinhos e receber mentoria da enóloga Carolina Ferrari, mestre em enoturismo pela Universidade de Bordeaux, Janaina Brizolla ampliou a visão sobre o vinho e desde então estuda constantemente sobre o universo da bebida.

“Percebi que o vinho não é apenas um produto, mas um alimento sagrado que sempre esteve presente em todas as civilizações, seja em rituais ou comemorações”, afirma.

Para ela, cada vinho carrega uma história, marcada por vidas, dedicação e amor.

Desde então, Janaina continua seus estudos e, com o apoio de Carolina, conectou-se a diversas mulheres empreendedoras no Brasil. E assim surgiu a Confraria Enopatia, uma rede que reúne enófilas, sommeliers e enólogas em encontros online.

Janaina também organiza eventos focados em mulheres que desejam aprender mais sobre vinhos de forma descomplicada e descontraída.

“Minha missão é descomplicar a forma tradicional de interagir com o vinho”, destaca.

Além da loja que possui no Instagram, ela compartilha sua paixão e conhecimentos, oferecendo uma experiência única para mulheres que buscam explorar o universo dos vinhos, por meio da D’Elas Confraria Sentidos & Reflexões.

“Além de despertar nossos sentidos na degustação sempre refletimos sobre temas voltados ao vinho e ao universo feminino”, conta a empreendedora e enófila.

O Papel das mulheres no mercado de vinhos

Janaina acredita que o papel das mulheres no mercado de vinhos é fundamental, trazendo leveza e sensibilidade a um mundo tradicionalmente dominado por homens.

Atualmente, segundo ela, as mulheres vêm ganhando destaque no universo da enologia, desafiando normas tradicionais e conquistando espaço em um setor historicamente dominado por homens.

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Ela cita exemplos inspiradores como a enóloga argentina Susana Balbo. Também as brasileiras Andreia Gentilini Milan e Juciane Casagrande Doro, sócias na Amitié, têm contribuído significativamente para o mercado de vinhos no Brasil.

“As mulheres estão assumindo seu papel de protagonistas, buscando conhecimento e tomando suas próprias decisões. Elas não esperam mais que os homens escolham por elas”, observa Janaina.

A empreendedora também percebe que muitas mulheres hoje preferem o vinho, enquanto seus companheiros ainda se inclinam para a cerveja, e vê isso como um reflexo da autonomia crescente das mulheres em suas escolhas.

Para ela, a presença está desmistificando a ideia de que vinho é “coisa de homem” ou reservado apenas para especialistas.

“O mundo do vinho sempre foi cercado de regras, mas hoje temos mais informações e liberdade para criar nossas próprias maneiras de apreciar a bebida. Não há nada de errado em beber o vinho do jeito que gostamos, desde que tenhamos o conhecimento necessário para fazer escolhas informadas”.

Para Janaina, o vinho não precisa ser reservado apenas para ocasiões especiais.

“Vinho também é autoconhecimento e uma bebida viva que desperta nossos sentidos,” diz ela.

Janaina incentiva o uso do vinho em momentos do dia a dia, como ao ler um livro, ver um filme ou preparar uma refeição, fazendo do vinho um companheiro constante na vida.

Entrevista: Mulheres o mundo do vinho

Neste bate-papo exclusivo com o Minha Vida Magnólia, Janaina Brizolla compartilha as percepções sobre vinho, a evolução da percepção feminina no universo vinícola e desmistifica mitos comuns.

Confira a entrevista:

Você é embaixadora da Nova Era do Vinho? O que isso representa para você?

Sim, sou embaixadora da Nova Era do Vinho, um movimento belíssimo idealizado pela enóloga Carolina Ferrari. Essa iniciativa busca ressignificar o consumo do vinho sob um olhar feminino, fundamentado em pilares como liberdade, sororidade, empatia, sensibilidade e conexões.

Para mim, a Nova Era do Vinho é um movimento de libertação, onde nós, mulheres, decidimos a melhor maneira de degustar um vinho, sem complicações. É uma revolução guiada pela energia feminina, pela sensibilidade, intuição e cooperação. Dionísio, o Deus que por tanto tempo tentou nos mostrar esse universo sensível, finalmente é compreendido de forma mais plena.

O vinho sempre foi algo simples, apesar de ter se tornado glamouroso e cercado de regras. Muitas pessoas acreditam que é necessário ser “chique” para apreciar vinho, mas a verdade é que basta ter vontade de conhecer e degustar. Essa nova proposta alivia o peso da dúvida: “Será que estou fazendo certo?”. Para nós, não há certo ou errado. O que importa é o gosto pessoal, e está tudo bem. Não julgamos, apenas degustamos, entendendo que cada pessoa tem seu próprio paladar, e isso é o que realmente conta. No entanto, isso não significa que desvalorizamos os fundamentos que envolvem o vinho.

Você acredita que a percepção sobre o vinho mudou entre as mulheres nos últimos anos? Se sim, de que maneira?

Com certeza, mudou muito. Hoje, as mulheres estão mais curiosas, desejam entender, conhecer e se aprofundar no que lhes interessa, especialmente na busca pela autonomia e pela liberdade de escolha.

Quais são os mitos mais comuns sobre vinhos que você gostaria de desmistificar?

  • “Quanto mais velho o vinho, melhor.” Esse é um verdadeiro mito. Cerca de 90% dos vinhos disponíveis no mercado são feitos para serem consumidos entre 3 e 4 anos, ou seja, são vinhos jovens e mais fáceis de beber. Vinhos produzidos para envelhecer são raros e geralmente destinados a consumidores e investidores.
  • “O fundo da garrafa indica a qualidade do vinho.” Isso também não é verdade. O fundo da garrafa está relacionado à estrutura da garrafa, não à qualidade do vinho.
  • “Vinhos com rolhas de cortiça são melhores que os com tampa de rosca (screwcaps).” Como a maioria dos vinhos são jovens, a tampa de rosca está se tornando cada vez mais popular, especialmente nos países do Novo Mundo, como Nova Zelândia, Austrália e Chile. Estudos mostram que a screwcap é uma excelente alternativa, inclusive por questões ecológicas, já que a cortiça é uma planta em extinção.

Como você escolhe um vinho para diferentes ocasiões? Existem dicas específicas para mulheres que estão começando agora?

Sim, a primeira dica é conhecer seu próprio paladar. Recomendo começar com vinhos mais leves e frutados, como os das uvas Gamay e Pinot Noir, ou brancos e rosés, como os vinhos verdes, que são excelentes.

Para diferentes ocasiões, é importante considerar o momento e a estação do ano. Se for uma festa ou jantar com amigos, sugiro vinhos jovens e frutados, como brancos, tintos, rosés ou espumantes, que agradam a todos os paladares. Para um jantar, é fundamental analisar o prato e buscar um vinho que tenha características semelhantes à comida.

O que diferencia um bom vinho de um vinho excelente? Existem sinais que as mulheres devem observar ao escolher um vinho?

A diferença está no processo de elaboração e vinificação, na proposta do enólogo. Um excelente vinho também depende da colheita, da seleção das uvas, da região de cultivo e do terroir. Um fator importante é a passagem por barrica, que pode adicionar aromas mais complexos e macios ao vinho.

Minha sugestão é escolher vinícolas com uma história de reconhecimento. Toda vinícola produz vinhos de entrada e vinhos com potencial de guarda, que passam por barricas de carvalho e têm um tempo maior de preparo, resultando em uma qualidade superior. Outra dica é pensar na região de origem e escolher o vinho pela uva que se destaca naquela região

Como você vê o papel das mulheres na produção de vinhos e nas principais vinícolas?

Acredito que o papel da mulher está no poder da intuição e da sensibilidade. Quando estudamos a história de grandes personalidades do mundo do vinho feminino, como Veuve Clicquot e Susana Balbo, percebemos que todas elas demonstraram muita coragem, paixão e ousadia.

Desde a antiguidade, as mulheres sempre desempenharam um papel crucial na produção e consumo do vinho. Hoje, a força feminina está rompendo barreiras e se destacando cada vez mais. Fico feliz em ver mais mulheres não apenas na produção e comercialização, mas também consumindo vinho. Afinal, vinho é para todos!

Como as mulheres podem aproveitar o vinho não apenas em ocasiões especiais, mas também no dia a dia?

Vinho também é autoconhecimento; é uma bebida viva que desperta nossos sentidos, proporcionando momentos de prazer e alegria.

Você pode degustar um vinho enquanto lê um livro, assiste a um filme, ou em um encontro com amigas. Preparando uma comida que você goste, enfim, quando se gosta de vinho, sempre há bons motivos para apreciá-lo.