
O suporte psicológico ajuda mulheres com câncer de mama a enfrentar medos, reconstruir autoestima e ressignificar suas vidas durante e após o tratamento.
Receber um diagnóstico de câncer de mama é um dos momentos mais difíceis na vida de uma mulher. Além dos desafios físicos impostos pela doença e pelo tratamento, o impacto emocional pode ser avassalador, alterando profundamente a forma como a mulher se enxerga e como se relaciona com o mundo ao seu redor.
A psicóloga Tauana Mohr, especialista em recomeços, explica como o suporte psicológico pode ser essencial para ajudar as mulheres a lidarem com essas emoções, reconstruírem sua autoestima e enfrentarem o tratamento com mais equilíbrio e força.
“O acompanhamento é fundamental para ressignificar esse momento de dor”, afirma Tauana.
Tauana aponta que o primeiro impacto após a notícia do diagnóstico é o medo da morte, algo que surge quase instintivamente.
“A primeira coisa que qualquer pessoa pensa ao ouvir ‘câncer’ é morte. Embora o diagnóstico precoce do câncer de mama ofereça grandes chances de remissão, esse temor ainda é muito presente,” destaca a psicóloga.
Mesmo com os avanços na medicina, esse pensamento pode ser paralisante, gerando uma sensação de perda de controle sobre a própria vida.
Esse turbilhão emocional, que inclui ainda a ansiedade, angústia e incerteza, pode ser tão intenso que afeta todas as esferas da vida da mulher. Nesse momento, o suporte psicológico específico é essencial para que a paciente consiga, aos poucos, ressignificar essa fase de dor e desafio.
“O acompanhamento psicológico vai além de tratar o medo da doença. Ele ajuda a mulher a redescobrir sua força interior e a reconstruir sua autoestima e identidade”, explica Tauana.
Como o câncer de mama afeta a relação com a família e amigos
O impacto do câncer de mama não se limita à saúde da mulher; ele afeta também suas relações interpessoais. Tauana Mohr ressalta que muitas mulheres sentem medo de se tornarem um “peso” para a família ou para os amigos durante o tratamento.
“É uma fase de muita vulnerabilidade. A mulher precisa de apoio, mas, muitas vezes, tem dificuldade de aceitar essa ajuda. Incentivar a comunicação aberta e sincera com familiares e amigos é fundamental”, afirma.
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A psicóloga reforça a importância de a paciente se cercar de uma rede de apoio genuína, composta por pessoas dispostas a ajudar de maneira construtiva e amorosa.
“Ter uma rede de apoio faz uma diferença enorme. E não é só sobre ter pessoas ao redor, mas sobre escolher quem realmente estará com você nesse processo.”
Enfrentando o espelho e as mudanças
Outro desafio emocional significativo está ligado à alteração da imagem corporal, sobretudo para as mulheres que precisam passar por cirurgias como a mastectomia. Essa mudança no corpo pode afetar profundamente a autoestima e a identidade da mulher.
Tauana explica que a psicoterapia oferece um espaço seguro para lidar com essas transformações: “A terapia ajuda a adaptar a rotina e a reconstruir a identidade dentro dessa nova realidade. Não é apenas sobre ressignificar o que foi perdido, mas aprender a viver da melhor forma possível dentro das novas condições.”
Esse processo de readaptação, segundo Tauana, é parte de um grande recomeço. Muitas mulheres precisam aprender a se reencontrar, tanto fisicamente quanto emocionalmente, após o tratamento.
Os mitos sobre a saúde mental de pacientes com câncer de mama
Infelizmente, muitos mitos cercam a saúde mental de pacientes com câncer de mama, o que pode inibir a busca por ajuda psicológica.
“Um dos maiores mitos é acreditar que sentir tristeza ou desânimo é normal e que nada pode ser feito”, destaca Mohr.
“A verdade é que o diagnóstico e o tratamento são experiências extremamente emocionais, e buscar ajuda psicológica não é sinal de fraqueza, mas de coragem.”
A psicóloga também observa que há uma resistência em muitas mulheres que acreditam que precisam ser fortes o tempo todo.
“Felizmente, cada vez mais mulheres estão percebendo que a terapia é uma aliada poderosa, que não se trata apenas de lidar com a doença, mas de manter sua saúde mental e emocional em equilíbrio”, afirma.
A adaptação pós-tratamento: um novo recomeço
O período pós-tratamento também apresenta desafios emocionais únicos, como o medo de recidiva e a necessidade de se ajustar a uma nova vida.
“O pós-tratamento é uma fase de adaptação e recuperação. Muitas mulheres relatam dificuldade em retomar a vida anterior, seja no trabalho, no cuidado com a família ou em outras áreas da vida”, explica Tauana.
Neste momento, o acompanhamento psicológico continua sendo importante.
“A terapia ajuda a mulher a reconstruir a autoestima, a lidar com os medos e ansiedades que surgem após o tratamento e a ressignificar toda a experiência”, complementa.
O retorno à rotina anterior nem sempre é simples, mas pode ser uma oportunidade de crescimento pessoal e renovação.
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“O pós-tratamento pode ser um recomeço, e, como todo recomeço, pode trazer desafios, mas também muitas oportunidades”, conclui a psicóloga.
Um caminho de cura além do físico
Cuidar da saúde mental durante o diagnóstico e o tratamento do câncer de mama é tão importante quanto cuidar da saúde física.
Tauana lembra que o apoio psicológico oferece uma base sólida para que as mulheres enfrentem a doença com mais equilíbrio, resiliência e serenidade.
“O câncer de mama é um divisor de águas, mas ele também pode ser um ponto de partida para uma nova forma de enxergar a vida”, finaliza a psicóloga.