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Nutricionista Graciane explica como lidar com a seletividade alimentar infantil, oferecendo estratégias práticas para pais e orientações personalizadas para superar esse desafio na alimentação
Muitas famílias enfrentam desafios na hora das refeições. Alimentos recusados e resistência são situações comuns, mas quando esse comportamento se torna persistente, pode indicar seletividade alimentar. Essa situação, frequente na infância, exige paciência e estratégias adequadas para garantir uma alimentação saudável.
A nutricionista Graciane Lazzaretti Piran, especializada no assunto, dedica-se a ajudar pais a lidar com esse desafio. Com mais de uma década de experiência, ela compartilha conhecimento e vivências sobre como tornar a alimentação das crianças mais variada.
Aos 41 anos, Graciane é casada e tem dois filhos, Victor e Enzo. Ela é proprietária da Escolinha Descobrindo o Sabor e formada desde 2011, a nutricionista fez também pós-graduações em nutrição funcional e terapia alimentar, além de especialização em consumo alimentar voltado para crianças com diagnóstico de TDAH e da síndrome do espectro autista.
“Meu interesse em trabalhar com crianças surgiu quando uma mãe me procurou em busca de ajuda. Naquela época, eu atendia apenas adultos e não tinha experiência com esse público. Decidi me aprofundar no assunto e, ao estudar, descobri um cenário novo para mim: a seletividade alimentar”, explica.
Ela conta que, na época em que começou a estudar o assunto, o filho mais velho, Victor, tinha restrições alimentares. Essa situação em casa intensificou seu interesse e compromisso com a questão.
“Se eu, como profissional, já enfrentei dificuldades para introduzir alimentos ao meu filho, imagine uma mãe que não tem o mesmo conhecimento. Isso me motivou a me aprofundar no assunto para poder ajudar outras mães e crianças”, reflete.
As complicações da seletividade alimentar
A seletividade alimentar é quando a criança apresenta um ou mais dos seguintes comportamentos: recusa, baixa aceitação alimentar, pouco apetite e desinteresse pela comida, dificuldade em experimentar novos alimentos, aceitação de uma pequena variedade de alimentos, inclusive em diferentes modos de preparo e apresentação.
A nutricionista lembra que a criança também fica agitada, chora ou até tem uma reação agressiva no momento das refeições.
É um comportamento mais típico da fase escolar, mas pode permanecer até a vida adulta, se não tratada. A seletividade alimentar é considerada a partir dos dois anos de vida. Antes, na fase da introdução alimentar, podem ocorrer algumas situações, mas ainda é uma fase em que a criança está aprendendo a comer.
“A seletividade alimentar gera uma monotonia na dieta das crianças e um caos para a família. Quando uma criança se alimenta repetidamente dos mesmos alimentos, acaba deixando de incluir todos os grupos alimentares essenciais na dieta”, lembra.
Segundo Graciane, por mais que ela esteja num peso adequado e crescendo, ela pode apresentar um quadro de desnutrição subclínica, não recebe todos os tipos de nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento.
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A dificuldade é considerada severa quando a criança aceita menos de 10 tipos de alimentos, considerando todos os grupos alimentares.
“Quando a criança aceita de 10 a 20 tipos de alimentos a seletividade é moderada”, explica a nutricionista.
Porém, crianças que recusam todos os alimentos que fazem parte de um mesmo grupo, como frutas ou vegetais, também são identificadas com seletividade alimentar.
Convívio social e familiar
Além dos problemas clínicos, outro fator é que o momento da refeição acaba sendo um desafio para os pais e um tormento para a criança.
“A família tenta auxiliar a criança e, muitas vezes, faz pressão. A gente sabe que a pressão é um fator negativo e faz com que a criança se afaste ainda mais do alimento.”
E não para por aí. Graciane lembra que o convívio social também é afetado pela seletividade dos filhos.
“Para os filhos não ficarem com fome ou para não ser um momento constrangedor, os pais acabam preparando a comida em casa e levando junto ou muitas vezes preferem nem participar de jantares ou almoços.”
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Terapia alimentar para ajudar pais e filhos
Graciane conta que a primeira conversa no consultório é sempre com os pais ou com o responsável. A partir desse primeiro contato, a profissional conhece toda a história da criança: detalhes da alimentação, da saúde e quais são as dificuldades da família em relação à situação.
A partir disso, é feita uma avaliação do que é mais adequado para cada caso. O tratamento pode ser clínico, envolvendo um plano alimentar específico, levando em conta o número de alimentos que a criança aceita.
Mas, quando o número de alimentos é muito restrito, o caminho é a terapia alimentar, uma forma de introduzir de maneira adequada os alimentos para a criança.
“Eu passo as orientações para a família e, após a avaliação e orientações, pai e mãe conduzem o trabalho com a criança em casa. Também são feitos exames laboratoriais e os resultados indicam se é necessária a suplementação”.
Ela lembra que o trabalho clínico é a cada 15 dias. Os pais voltam para o atendimento, a gente avalia o que deu certo, o que não deu certo e passo novas orientações. O atendimento terapêutico ocorre uma vez por semana com sessões de 45 a 50 minutos.
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Segundo a nutricionista, a orientação para pais e mães é sempre oferecer variedade para as crianças, mesmo que elas não aceitem, para que elas tenham contato com todos os alimentos.
“O contato faz com que a criança ganhe confiança e se sinta confortável para experimentar.”
Ela reforça também que é importante fazer preparações diferentes, não ofertar sempre do mesmo jeito a refeição. Envolver a criança no processo é outra dica da profissional. Levar junto ao supermercado ou a feira para a compra dos produtos e, depois, fazer com que a criança ajude no preparo das refeições.
Relação de confiança entre pais e filhos
Segundo Graciane, os pais não devem esconder os alimentos das crianças. Muitas vezes, na tentativa de fazer com que comam, algumas famílias misturam ingredientes no preparo sem avisar, como adicionar cenoura ou beterraba ao feijão para que a criança consuma sem perceber.
“É importante não esconder os alimentos. Quando uma criança percebe que algo foi camuflado na refeição, isso pode gerar desconfiança e comprometer a relação de confiança com os pais”, explica.
A seletividade alimentar pode ser um grande desafio para pais e responsáveis, mas com paciência, informação e acompanhamento profissional, é possível ampliar o repertório alimentar das crianças de forma respeitosa e eficaz.
O trabalho da nutricionista Graciane mostra que cada pequena conquista faz a diferença, ajudando as famílias a tornarem as refeições momentos mais leves e saudáveis.