
Será que o amor cura tudo? Psicóloga Cláudia Barroso aborda como doença com diagnóstico difícil impacta na vida das famílias
Nós temos um costume cultural de acreditar que o amor cura tudo.
Quando chega um diagnóstico médico que impacta toda a família e aparece a figura do cuidador familiar, ou seja, aquele que se dispõe a cuidar do ente adoecido, a sensação é de que vai ficar tudo bem, afinal, “eu amo essa pessoa”.
Mas se entregar ao outro acreditando que, por amor, tudo será vencido, é um caminho perigoso, muitas vezes de adoecimento também para quem cuida.
Quem tem um caso se Alzheimer sabe bem como a doença chega: de mansinho.
Um mal neurodegenerativo progressivo, com deterioração cognitiva e da memória de curto prazo e outros sintomas neuropsiquiátricos que se agravam com o tempo, com alterações comportamentais, o Alzheimer faz esquecer de fatos, pessoas, se comeu, se tomou banho, por exemplo.
O período chamado pré-clínico, ou seja, antes do diagnóstico em si, pode começar anos antes de aparecerem os primeiros sintomas.
Quando a doença se instala definitivamente, pode perdurar ao longo de 8 a 10 anos, às vezes até mais, necessitando, por isso, de cuidados continuados.
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Como o amor cura tudo?
O diagnóstico é impactante para toda a família e acomete um patriarca ou uma matriarca, que, de repente, já não pode mais tomar decisões sozinho ou sozinha e é aí que aparece a figura do cuidador familiar. Alguém que se dispõe ou que acredita que deve cuidar daquele que está doente.
E, com essa disposição, até por questões socioculturais, vem a sensação de que vai ficar tudo bem, afinal, há muito amor envolvido.
“E é aí que acontece um dos maiores enganos dessa equação”, explica Cláudia Barroso, psicanalista à frente do programa Bem me Care, que há mais de 10 anos acolhe famílias que receberam um diagnóstico médico difícil.
“Esse lugar de quem se entrega de corpo e alma aos cuidados do ente adoentado por amor se coloca em uma jornada perigosa que pode, inclusive, levar ao adoecimento do próprio cuidador. Uma doença com desdobramentos tão graves como o Alzheimer precisa de uma rede de apoio”.
Cláudia lembra: “geralmente, a pessoa esquece de si, e no começo parece que tudo vai correr bem, mesmo. Só que, com o tempo, se percebe que está deixando a própria vida, e começam a surgir dúvidas, culpa, alguns acabam sendo acometidas por depressão ou por doenças causadas pelo fato de não cuidarem de si mesmas”.
“O amor não cura tudo. Ele ajuda a enfrentar momentos difíceis e precisa estar presente na tomada de decisão, inclusive ao optar por um cuidador profissional, por exemplo”, enfatiza a psicanalista.
Na relação de um casal no qual um dos dois acaba com Alzheimer, ou mesmo entre pais e filhos, é preciso separar o amor das necessidades.
“Temos que normatizar o ‘não dou conta’, mesmo amando”, enfatiza Cláudia.
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Sobre Cláudia Barroso

Cláudia Barroso é Psicóloga Clínica formada pela Fundação Mineira de Educação e Cultura (Fumec).
Tem especialização em Psicoterapia Breve Psicanalítica pelo Instituto Sedes Sapientiae e Psicoterapia de Casal e Família.
É Terapeuta Sexual, formada pelo Isexp e Psicanalista formada através de processo particular.
Além de fundadora e idealizadora do projeto Bem me Care, é autora do livro “O impacto da má noticia médica na família. Uma visão psicanalítica” (CLIQUE AQUI para saber mais sobre o livro), tendo como co-autora Sonia Pires.
Ela também é gestora do Falhei & Disse – Reflexões Psicanalíticas com Entretenimento.
Hoje atende crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias em consultório em São Paulo, atuando também de forma on-line.