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O Brasil lidera os índices mundiais de ansiedade. Para a psicóloga, é possível encontrar equilíbrio ao reconhecer os sinais e cuidar da saúde mental
Por trás de uma tela, uma reunião que se estende além do horário. No outro cômodo, a louça que se acumula na pia. No celular, notificações que não param de chegar. O coração acelera, a respiração fica curta, a mente não desliga.
O corpo dá sinais, mas seguimos tentando dar conta de tudo. No Brasil, um dos países com os maiores índices de ansiedade do mundo, essa sensação tornou-se cotidiana para muitas mulheres.
Para a psicóloga Giovana Scussiato Tessaro, que há 16 anos se dedica ao atendimento clínico e ao desenvolvimento de projetos voltados à saúde mental, entender a ansiedade é o primeiro passo para encontrar um caminho mais leve.
“Vivemos em um ritmo acelerado, com uma cobrança constante por produtividade e perfeição. O problema é que essa exigência não dá espaço para a pausa e o autocuidado, elementos essenciais para o nosso bem-estar”, explica.
O impacto é evidente. Entre janeiro e outubro de 2024, o Sistema Único de Saúde registrou 671.305 atendimentos ambulatoriais relacionados à ansiedade, um aumento de 14,3% em relação ao mesmo período do ano anterior.
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Esse crescimento reflete um conjunto de fatores que, pela minha experiência, incluem instabilidade econômica, sobrecarga de trabalho, insegurança social, influência das redes sociais e mudanças no estilo de vida moderno.
“A constante pressão por produtividade e perfeição impõe um peso emocional significativo, exacerbando os casos de ansiedade.”
Os impactos da ansiedade na rotina das mulheres
A ansiedade tem múltiplas causas, mas algumas se tornaram mais evidentes nos últimos anos: instabilidade econômica, excesso de informações, redes sociais e sobrecarga de tarefas. No caso das mulheres, a pressão se intensifica.
Conforme a psicóloga, as mulheres são mais suscetíveis à ansiedade devido a uma combinação de fatores biológicos, sociais e culturais. Carregam uma carga emocional imensa, segundo a especialista.
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No geral, as elas são responsáveis pela casa, pelos filhos, pelo trabalho e ainda tem a necessidade de estarmos bem o tempo todo.
“A cobrança por dar conta de tudo nos leva a um estado de exaustão emocional e mental. Além disso, a dupla, tripla jornada de trabalho, aumentam o risco de desenvolver transtornos ansiosos. Isso ocorre com maior incidência com mulheres que acabam tendo um perfil mais perfeccionista, controladora e até mesmo conservadora”, reflete Giovana.
A ciência confirma essa percepção. Estudos indicam que as mulheres são mais propensas a transtornos de ansiedade devido às oscilações hormonais e ao impacto da sobrecarga mental.
“As oscilações hormonais ao longo da vida, como durante a menstruação, gestação e menopausa, influenciam diretamente o humor e a regulação emocional.”
Giovana destaca que “nós mulheres buscamos espaço entre os homens, por igualdade, reconhecimento profissional, espaços de trabalho, e ao longo do tempo fomos conquistando tudo isso, o que é algo para se comemorar, pois somos merecedoras disso e muito mais”.
Segundo Giovana, essas conquistas vieram acompanhadas de novas demandas, e muitas mulheres não querem abrir mão de aspectos importantes da vida, como a maternidade, o cuidado com a família, a gestão do lar, a busca por aprendizado contínuo e o empreendedorismo.
Quando o corpo fala, é preciso escutar
Nem sempre a ansiedade se manifesta de forma clara. Muitas vezes, ela aparece em sintomas físicos que passam despercebidos. Cansaço constante, dificuldade para dormir, irritabilidade e tensão muscular são alguns dos sinais.
“O corpo sempre avisa quando algo não está bem. Mas, na correria do dia a dia, ignoramos esses sinais até que eles se tornem impossíveis de suportar”, observa a psicóloga.
Encontrando o equilíbrio
Diante desse cenário, Giovana reforça a importância de pequenas mudanças que podem transformar a relação com a ansiedade. Estabelecer limites no trabalho, praticar atividades físicas, cultivar momentos de pausa e buscar conexões afetivas são algumas das estratégias que ajudam a aliviar a tensão.
“Não se trata de eliminar a ansiedade, porque ela faz parte da vida. O que podemos fazer é criar espaços de respiro, entender nossos limites e respeitar o tempo das coisas”, aconselha.
Para muitas mulheres, esse processo começa com a decisão de buscar ajuda. A psicoterapia, segundo Giovana, oferece um espaço seguro para compreender os gatilhos e construir formas mais saudáveis de lidar com as emoções.
“O caminho para o equilíbrio passa pelo autoconhecimento e pelo acolhimento. A ansiedade não precisa ser uma sentença, mas um convite para olharmos para nós mesmas com mais gentileza.”
Ajuda profissional
Segundo a psicóloga, os profissionais de saúde mental têm um papel fundamental no combate a esta epidemia da ansiedade que vem se instaurando.
“Em nível individual, conseguimos trabalhar nos espaços de consultório com um olhar focado no indivíduo, sua história e suas relações, com atendimentos presenciais ou on-line, atendimento individual, de casal ou família”.
Em nível coletivo, a psicóloga destaca que a realização de palestras, rodas de conversa e campanhas de conscientização pode desmistificar a ansiedade e encorajar a busca por ajuda.
“Além disso, parcerias com empresas e instituições podem promover um ambiente mais saudável e acolhedor.”
Como identificar os sintomas da ansiedade?
A psicóloga Giovana Scussiato Tessaro alerta que a ansiedade pode se manifestar de diversas formas, podendo começar de forma sutil, com uma inquietação, a falta de paciência por vezes manifestada pelo paciente, mas os principais sintomas incluem:
- Taquicardia e respiração ofegante.
- Sensação constante de preocupação ou medo excessivo.
- Tensão muscular e dores no corpo.
- Alterações no sono, como insônia ou sono excessivo.
- Dificuldade de concentração.
- Fadiga e exaustão mental.
Identificar se estamos sofrendo de ansiedade exige um olhar atento para nossos pensamentos, emoções e comportamentos. Quando essas sensações começam a interferir na rotina e no bem-estar, é essencial buscar orientação profissional para um diagnóstico adequado.
Pois quanto mais cedo percebermos estas alterações, buscarmos auxílio de um profissional, será mais fácil de tratar e ter uma melhora eficaz na qualidade de vida.
Estratégias práticas para lidar com a ansiedade no dia a dia
Diante das barreiras para buscar ajuda psicológica, Giovana diz que muitas mulheres precisam recorrer a estratégias alternativas para lidar com a ansiedade.
A psicóloga lista algumas práticas recomendadas:
- Respiração diafragmática e mindfulness para controlar o estresse.
- Exercícios físicos regulares para equilibrar os níveis hormonais e liberar endorfina.
- Estabelecimento de limites para evitar sobrecarga mental e emocional.
- Organização da rotina para reduzir a sensação de caos e aumentar a produtividade.
- Conexões sociais de apoio, como grupos de mulheres e redes de acolhimento.
- Um momento só para ela, dentro das tarefas diárias, incluir em sua agenda, um momento para o auto cuidado ou simplesmente para ficar consigo mesma.